O Gambito da rainha: a jornada da enxadrista Elizabeth Harmon

Era somente uma série sobre xadrez. Assim eu pensava.

O Gambito da Rainha. Fonte da imagem: universo reverso

Quando comecei a assistir o gambito da rainha – o nome se refere a uma jogada de abertura no xadrez – não esperava muito.

A série me surpreendeu sobremaneira.

Foi baseada no livro O Gambito da Rainha escrito por Walter Tevis e lançado em 1983.

O e-book acima mencionado está disponível em inglês e o precinho é de um café apenas. Aproveite para praticar o seu inglês!

A Netflix lançou em outubro de 2020 e é ambientada nos anos 50 e 60. A série é protagonizada por Anya Taylor-Joy. Ela incorpora Elizabeth Harmon uma garota que ficou órfã após um acidente de carro no qual sua mãe morreu.

O que parecia um enredo simples foi se desenvolvendo na riqueza emocional dos personagens, não apenas da protagonista.

A infância passada num orfanato revela como a inocência foi sendo substituída (ao longo dos anos) pela couraça emocional que envolve Elizabeth.

Anya Taylor-Joy : Elizabeth Harmon no Gambito da Rainha

Ela aprende a jogar xadrez com o zelador do orfanato (um homem solitário e de poucas palavras) e desenvolve (ou descobre?) um dom excepcional para o jogo.

Um talento único digno de gênios. E com ele, vem o fardo da solidão.

Os prodígios (pessoas com a presença de um talento excepcional na primeira infância) ou são considerados muito sensíveis ou insensíveis a mediocridade alheia. Ou ambos.

Um gênio (considerado como tal) apresenta um intelecto de primeira grandeza, um dom fora do comum ou talentos em diversas áreas mentais, mas é um solitário.

Seja por falta de paciência em conviver com as pessoas normais seja por uma sensibilidade exacerbada ao mundo que o rodeia.

Elizabeth Harmon mostra de cara que tem um talento natural para o xadrez, em pouco tempo ela pega o ritmo do jogo e o significado das peças por observação apenas.

Um prodígio dada sua idade: 8 anos no livro e 9 anos no seriado.

Torna-se uma jogadora intuitiva como eles denominam no seriado.

Tabuleiro de Xadrez : o Gambito da Rainha

A vida da protagonista é contada através dos campeonatos regionais e internacionais, da sua adoção e consequente saída do orfanato, dos amores (platônicos ou não) ao longo do caminho e dos vícios desenvolvidos ao longo da jornada.

Uma das coisas mais curiosas no livro (e na série) era o fato do próprio orfanato fornecer pílulas para as crianças, uma espécie de prozac de antigamente, um tranquilizante pelo que parece.

Algumas crianças desenvolvem uma tolerância a droga e consequente dependência. Beth é uma delas.

Passando por calmantes, drogas e álcool Eizabeth Harmon sobrevive aos trancos e barrancos até encontrar seu equilíbrio ou um caminho para ele.

Perdendo menos do que aprendendo com os erros, faz amigos e inimigos protegendo seu coração de uma eventual dependência emocional ela cresce em estatura moral ao longo dos capítulos.

O que o abandono e a negligência não fazem?

A trilha sonora e o figurino são de cair o queixo. Beth passa de uma menina sem graça a uma mulher madura e super estilosa. O bullying sofrido na escola certamente ajudou.

Alguns críticos da série consideram que a Netflix usa e abusa dos clichês a fim de tornar a série mais cativante.

Discordo.

Qualquer livro, filme ou série de sucesso conta com os elementos consagrados da jornada do herói por Campbell no célebre O Herói de Mil Faces .

São elementos essenciais para tornar uma estória arrebatadora.

Christopher Vogler escreveu as 12 etapas para tornar uma estória impecável baseado no livro de Campbell no famoso: A Jornada do Escritor.

O livro nasceu de uma análise mais elaborada do Herói de Mil faces, acima mencionado. Na Jornada do escritor o autor faz uma análise do caminho percorrido pelo herói baseado em filmes marcantes da história do cinema.

Aquele lembrete amigo: utilizamos links afiliados. Se você comprar um livro pelo link recebemos uma comissão, mas isso não afeta o valor que você paga, ok?

O gambito da Rainha: série da netflix

O storytelling também utiliza elementos parecidos, embora de forma mais condensada. Por vezes utiliza apenas 7 passos da jornada do herói para estreitar laços com os clientes e alavancar um negócio.

Não vejo por que deixar de usar um recurso amplamente utilizado até mesmo para converter leitor em cliente.

Os recursos estão aí para serem usados e se for para o bem do leitor ou do espectador tanto melhor, não é?

Acredito que a série da Netflix foi muito bem realizada, com poucos problemas de continuidade e inúmeras cenas incríveis.

Tanto a ambientação quanto a profundidade emocional dos personagens enriquecem o enredo.

Há tempos não assistia uma série tão bem feita.

Não vou dar spoiler, somente comentar que essa atriz realmente se superou.

Eu não a conhecia, mas vou prestar atenção no seu nome daqui para frente.

Jogo de Xadrez em fractais ilustração

Os “amores” também dão um show de interpretação.

Harry Melling surpreende com uma atuação sensível e de grande porte, digna de um ator já consagrado.

Thomas Brodie-Sangster, mais conhecido por sua atuação em Game of Thrones, brilha no gambito da rainha. Está mais maduro como ator e demonstra total domínio das cenas. Convenceu.

Se você quiser aprender mais sobre o jogo um excelente livro, disponível em português, para quem quer começar é o Xadrez Básico.

O estilo claro e agradável da leitura mostra as aberturas mais comuns e suas variantes, o posicionamento no meio do jogo e os finais possíveis e menos prováveis.

É considerada uma das melhores obras do gênero pelos enxadristas.

Na mesma linha há o excelente Xadrez para iniciantes onde o leitor aprenderá o passo a passo para movimentar as peças, além de usar táticas como garfos cravadas e ataques descobertos para capturar as peças do adversário.

Ensina também a prever a estratégia do seu oponente para planejar um ataque defesa e contra-ataque com um novo plano e a estar sempre atento para todas as posições de xeque-mate.

Jogo de Xadrez: o Gambito da Rainha

Outro livro que usa o xadrez como pano de fundo para uma história inusitada é a Jogadora de Xadrez.

A heroína se sente presa num tabuleiro de xadrez como um peão, repetindo ações de modo inconsciente, até desenvolver ao longo da trama – muito bem construída- a possiblidade de se movimentar em todas as direções e por fim, se metamorfosear na rainha.

A jornada de uma mulher em busca de si mesma pelos olhos da enxadrista. Só leia.

Gostando ou não de xadrez O Gambito da rainha é um excelente entretenimento.

E, com um pouco mais de observação, aprende-se muito sobre o processo de autoconhecimento da personagem, sobre sua solidão e suas falhas.

Afinal, somos todos feitos de luz e escuridão, não é?

Recomendo muito a série! De bônus você ainda viaja pelas ruas de Paris e pela antiga União Soviética.

Moscou: o Gambito da Rainha

Nada melhor que pegar um avião (imaginário) quando não podemos viajar ainda.

Você assistiu a série? O que achou? Deixa sua impressão nos comentários!

Boa jornada aprendendo com o Gambito da rainha!

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8 comentários sobre “O Gambito da rainha: a jornada da enxadrista Elizabeth Harmon

  1. Maravilhoso. Gostei de mais. Uma série sobre emoção, dedicação e amor ao que se faz. Joguei xadrez quando pequena. Depois desisti. Vou contar a jogar.

      1. É um ótimo filme. Além de emocionante, é um filme que pode estimular jóvens e adultos a se voltarem para o exercício da memória e do raciocínio lógico. Quanto ao elenco, considero excelente atuação dos atores, com destaque às duas atrizes principais é claro. Valeu.

  2. É um ótimo filme. Além de emocionante, é um filme que pode estimular jóvens e adultos a se voltarem para o exercício da memória e do raciocínio lógico. Quanto ao elenco, considero excelente atuação dos atores, com destaque às duas atrizes principais é claro. Valeu.

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