Há um mês fui contratada para corrigir apresentações na empresa onde também faço tradução simultânea.
Corrijo, comento e faço sugestões acerca das apresentações – em inglês, é claro 👌- e, no final os colaboradores ensaiam, praticam até que fiquem seguros o suficiente para apresentar o conteúdo ao público – apresentação virtual por hora.

Semana passada a organizadora e idealizadora do projeto estava comentando comigo que 99% dos funcionários que me procuram são mulheres.
Ela me questionou o motivo e eu respondi: nós somos mais exigentes, algumas tem a síndrome de impostor e acham que não são boas o suficiente. Que nunca estão preparadas para realizar as tarefas que lhes são designadas.
A síndrome do impostor é caracterizada por pessoas que têm tendência à autossabotagem. Então, o indivíduo constrói, dentro da cabeça dele, uma percepção de si mesmo de incompetência ou insuficiência.
Naturalmente, todo o cérebro humano possui essa pré-disposição a colocar essa sensação de incapacidade e demérito, mas nas mulheres isso é mais presente.
Legado do patriarcado, não é? Mais do que isso: a maneira como somos criadas para competir – entre nós infelizmente – e dar biscoito para quem não merece.
Competimos com as de nossa espécie quando deveríamos nos concentrar em nosso pior inimigo: nós mesmas.
Somos os nossos piores críticos, levantamos o chicote e estamos prontas para nos julgar ao menor vacilo. Isso sim deveria ser objeto de estudo, aprendizado e confronto sincero no nosso desenvolvimento pessoal.
Foco do autoconhecimento.
Qual o motivo por trás de tanta cobrança? De tamanha insatisfação com nossas realizações?
As causas relacionadas ao desenvolvimento da síndrome são variadas: questões sociais, traços da própria criação familiar, questões econômicas, experiências, tudo isso pode contribuir para um trauma, marcado pela insegurança e cobrança excessiva.
Um nível alto de cobrança na infância é uma das grandes causas dessa sensação, mas também vem do convívio social, principalmente entre os tímidos.
Fabrício Nogueira
Refletindo sobre isso, lembrei de uma tradução que realizei e o homem tinha um powerpoint malfeito, uma coisa lá meio jogada sabe? Sem cuidado com a estética ou mesmo com o conteúdo. Coesão e gramática? Para quê?
Mas ele estava lá, com 200 ou 300 pessoas ouvindo e de cabeça erguida.
Falando um inglês razoável, mas com uma postura de super-herói. E, claro com energia e entusiasmo de sobra, contagiando o público.
O que ele tem que eu não tenho?
Nada.
Provavelmente sua apresentação seria 10 vezes melhor, mas você acha que seu inglês não é bom o suficiente, que sua pronúncia não está adequada, que deveria ter emagrecido para caber naquela roupa e assim por diante.

E não só para a apresentação, mas também para tentar aquela vaga de emprego ou ainda fazer a entrevista desejada.
Então nem se candidata, não melhora o inglês, não clica no botão nem mesmo atualiza o currículo.
Autossabotagem.
Ela é um dos sinais da síndrome do impostor. E quais são os outros?
Sentimento de não pertencimento – você acha que não pertence ao grupo social que está inserida e como consequência, se afasta do grupo, assim como afasta as pessoas de você, ainda que de modo inconsciente.
Procrastinação é outro sintoma. Se você deixa as tarefas importantes, cruciais ou emergências para depois e não consegue finalizar a tempo pode ser insegurança, e se for, é sintoma da síndrome.
Autodepreciação: pessoas que tendem a gostar menos de suas qualidades e características, tornando-se amarguradas e tóxicas consigo mesmas, é também um sinal de alerta.
Autocrítica excessiva está presente: claro que é válido criticar seu trabalho com o intuito de melhorá-lo. No caso da síndrome do impostor a pessoa isso é feito de forma excessiva até perder o contato com a realidade.
E, por fim, comparação: a grama do vizinho sempre parece mais verde. O indivíduo só encontra valor naquilo que os outros fazem e nunca em si mesmo. Lembre-se que a grama do vizinho pode ser de plástico.
Somente um profissional qualificado pode diagnosticar a síndrome do impostor, eu não sou psicóloga, mas escrevo com base no comportamento das minhas alunas e dos colaboradores da empresa onde corrijo as apresentações.
Então para ter certeza, consulte um terapeuta, certo?
O post foi baseado no artigo 7 sinais para identificar a Síndrome do Impostor.
Por último, mas não menos importante: o que você pode fazer para reduzir a síndrome de impostor?
Faça uma checagem de realidade: como está sua vida pessoal? Comece o processo de autoconhecimento, ele é doloroso, mas essencial. O que pode ser melhorado? De verdade? Qual seu diferencial? O que você oferece para seus clientes, que ninguém mais faz?
Avalie seu trabalho e desempenho com olhos técnicos e peça feedback dos clientes, dos amigos e quem sabe até de um parente – que seja imparcial.
Faça uma pesquisa de satisfação com seus clientes. O que pode ser melhorado?
Por último, acredite em você mesma – repito isso para minhas alunas todos os dias. Você pode, é melhor do que se dá crédito, vai com tudo, se joga menina!
Se colocássemos a mesma energia que dispendemos nos criticando e desencorajando para realizar um novo projeto, tenho certeza de que ele seria bem-sucedido.
Começa. Leia, se prepare, mas vá. Candidate-se aquela vaga, estude inglês, melhore sua postura, mas faça. Comece pequeno, com pequenos passos, mas comece hoje!
Que a sua vontade de vencer seja maior que sua insegurança 😉.
Se quiser ler mais sobre o assunto recomendo a síndrome da impostora e o excelente livro da Brené Brown: a coragem de ser imperfeito. Dupla dinâmica que vai ajudar a vencer o problema.
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Me diga: você também sofre com a síndrome do impostor?
2 comentários sobre “Síndrome do impostor: por que afeta mais as mulheres?”