Como escrever bem sem sofrer na jornada do escritor

O que é preciso para escrever bem?

É essencial ler, mas isso você já sabe.

Sou escritora e todas as vezes que me sento para escrever, seja um post, artigo ou capítulo de um livro, é um parto. Literalmente dói.

O ato de escrever em si não é doloroso, por vezes é água do rio de correnteza forte, caudaloso e sensual. Outras, entretanto, preciso colocar a ideia no papel e isso demanda esforço.

Fonte da imagem: unsplash. Garota escrevendo em um caderno.

Uma coisa é ter uma ideia, outra bem diferente é passá-la para o papel. O leitor precisa compreender a mensagem, a ideia, o pensamento. E isso nem sempre é fácil.

Aliás, o caminho é sempre tortuoso, mesmo quando a ideia flui livremente.

O objetivo é escrever de maneira simples, passar a ideia que está encruada na cabeça, de modo que a mensagem seja entendida e não apenas entregue.

Após a “passagem” da ideia preciso lapidar, trocar vocábulos, corrigir o português, usar figuras de linguagem, e ainda, pesquisar o SEO se quero ter um alcance maior. Nem sempre quero. Na maioria das vezes só desejo lançar o pensamento, qual alimento não digerido.

Acrescento que português é uma língua linda, mas complexa.

Assim o primeiro passo é ler mais. O que você deve ler? O bom e o mau. Escolha depois o que mais lhe interessa e tal processo acontece com o tempo.

Como ensino inglês, às vezes tenho que ler Business English, que não é meu tópico favorito, mas de qualquer forma does the trick.  

Faz com que eu preste atenção na forma como as sentenças são escritas, na escolha das palavras, nos diferentes estilos e acima de tudo, me ajuda a compreender melhor o texto. De quebra, ganho vocabulário novo.

Em segundo lugar, além de ler mais e melhor, é necessário praticar a arte todos os dias.

Como aprender uma nova língua, ir à academia, começar ioga, estudar marketing. Qualquer coisa que você decida aprender deve criar uma disciplina. Escreva, todos os dias, um pouquinho. Se quiser, faça um diário, até lista de compra vale.

Se uma ideia cair no seu colo, deixe o processo fluir: a corrente de pensamento não deve ser impedida. Escreva de qualquer jeito e depois corrija aos poucos.

Por vezes estou tomando banho e tenho um insight: desligo o chuveiro, pego o celular e anoto no bloco de notas. Nem sempre faz sentido, mas pode ser a semente de um artigo, o fator gerador de um escrito, seja ele qual for. Escrevo como vem.

Deixe seguir o fluxo. Faça isso você também!

Depois faça um esqueleto da corrente de pensamento. Qual a ideia principal? O que você quer passar com aquela mensagem? Repita o processo dividindo em sessões.

O mesmo que você fazia nas aulas de redação: tudo tem que ter começo, meio e fim. Em outras palavras: introdução, desenvolvimento e conclusão.

Se o meio estiver confuso, deixe estar. Depois você desenvolve melhor.

Fonte da imagem: unsplash. Bloco de notas e caneta.

Comecei livros em que escrevi o epílogo antes do capítulo dois. Isto é: o fim vem antes do meio e por vezes até do início de uma história. Não se preocupe com a ordem neste momento. É apenas um esboço do projeto, um esqueleto ou a base do seu post.

Agora começa o trabalho duro.

Pelo caminho, suor e sangue.

Tente simplificar o que escreveu. Encontre palavras que representem a mesma coisa, mas sem exagerar. Troque adjetivos complexos por aqueles que são mais acessíveis, livre-se dos advérbios, mude da voz passiva para a ativa, dê adeus a verborragia e torne seu texto conciso.

Esta é a primeira poda. Antes da primavera.

Em vez de criar um bloco de texto, divida as seções em frases curtas. Os marcadores, (bullet point em inglês) em particular, são uma ferramenta incrível. Depois desenvolva o que foi escrito de modo conciso, aos pouquinhos e no final corrija um por um.

Quanto mais acessível for seu texto, mais ele será lido e apreciado.

Use sua voz. Cada pessoa escreve de um jeito próprio, assim como fala, anda ou come. Tudo em nós reflete quem somos.

Você tem um estilo próprio de se vestir, não é? Não estou falando de moda ou o que está em alta, falo de estilo.

Escrever é a mesma coisa. Quer você tenha encontrado ou não sua voz, ela está aí, na sua essência. No âmago do ser, onde só conseguimos alcançar fechando os olhos e sentindo o chão embaixo de nós. O lugar do sagrado, onde mora você, caro leitor. Neste lugar você achará o bem mais precioso: a sua voz.

Sua voz ou estilo deve ser visto num passar de olhos. O escrito tem que soar como você.

Terminei de escrever o Guia do Algarve recentemente. No momento, faço um curso para publicá-lo sozinha, aprendo a fazer um e-book em uma plataforma. Mas quando terminei o guia eu sabia que minha voz não estava ali. Li e reli e não me encontrei no texto.

Sim, o guia de viagem estava prático, continha as acomodações, os melhores lugares, como economizar, e assim por diante, mas não tinha a minha voz. Faltava o meu estilo naquelas páginas.

Refiz. Li. Reli. Modifiquei. Revisei.

Fonte da imagem: unsplash. Garota escrevendo em uma mesa com uma xícara de café.

Tenha em mente que o processo é longo. Não interessa se é apenas um post para o insta ou um livro.

O procedimento demandará tempo, esforço, revisão. Releitura e correção. É o que chamamos de tunar, modificar o tom, afinar o instrumento musical, ajustar a melodia, adaptar as palavras até que tudo se harmonize como numa sinfonia.

Não tenha pressa.

Não é pau, nem pedra, mas acabou o caminho?

Infelizmente não.

Você deverá editar o que escreveu. Não apenas corrigir os erros gramaticais na fase de revisão, mas “cortar” ou podar, o que pode ser eliminado.

Exatamente como faz nas plantas de sua casa ou com uma árvore: você remove os bulbos de modo a desenhar o formato da árvore, determinando qual espaço a mesma tem para poder crescer e se desenvolver.

Com o texto você remove as sentenças mais longas, alguns adjetivos que ainda sobraram da primeira poda, reformula sentenças que podem ficar menores e mais simples, dando espaço para que o texto floresça, a primavera já aponta, caro leitor!

O último passo da escrita é verificar se aquilo que você queria dizer está efetivamente no texto.

A sua ideia chave, o motivo do seu escrito, a mensagem que queria passar. Está no texto? Era isso mesmo que queria dizer? O leitor entenderá aquilo que você escreveu?

Se possível, passe para alguém ler e faça as perguntas acima. Só assim você terá certeza de que alcançou seu objetivo.

Não esqueça que ler tudo é recomendável, porém ler livros testará a capacidade de absorção em um maior grau, bem como associação e compreensão geral.

O livro tem uma carga mais intensa, em primeiro lugar. São diversas palavras desconhecidas ou não usada habitualmente, mais informações do que um post de blog e, consequentemente o leitor treina o cérebro para absorver tudo que chega ao mesmo tempo.

Exercita o músculo para que ele suporte uma carga maior.

Em segundo lugar, a leitura de um livro pode ser tão interessante que lhe prenderá até a última linha. Deixe-se surpreender.

Em terceiro, você assimilará mais conhecimento sobre um determinado assunto. Por exemplo, quando lê sobre escrita, seu conhecimento ficará no mínimo, mais amplo.

E, ainda, facilita a associação de ideias: quando você tem uma determinada imagem na cabeça e consegue evocar outra. Assim, este post pode trazer a mente algo parecido que você já leu. Trouxe?

A associação é parte do processo criativo. Pode parecer que uma ideia surge “do nada”, no entanto ela é parte de um intrincado processo que envolve leitura, exposição a várias coisas, flexibilidade e associação.

Você só consegue associar ideias se tiver sido exposto a várias, com diferentes tonalidades, meios e formatos. Ou vozes diversas.

Associar é preciso. Expor-se é mandatório.

Como você leu até aqui, use o tempo a seu favor lendo livros sobre escrever melhor. Há diversos no mercado, porém recomendarei os cinco livros que acho mais relevantes e práticos, combinado?

1. On writing : muito além de dicas de escrita, este livro contém histórias das experiências do escritor Stephen King. Menciona os livros e filmes que o influenciaram, como funciona o processo criativo e os acontecimentos antes do primeiro sucesso. É o storytelling em toda a sua majestade. Essencial para quem quer escrever melhor.

2. Write Tight: ser conciso é dizer o que tem que ser dito, de forma resumida. Como mencionado no post é uma das dificuldades que o escritor enfrenta. Este livro é um guia com valiosas dicas para se manter o texto conciso e focado, dentro do assunto proposto, sem enrolação. Caro, mas excelente.

3. Nail your novel: o título conciso esconde uma gama de dicas para começar a escrever o primeiro livro. E de bônus: está apenas R$ 9,16 no kindle. Só leia.

4. The Sense of Style: lembra que falei sobre descobrir sua voz? Este livro fala sobre estilo, formatos de publicação desde posts de blog a livros, como escrever melhor e ainda fornece insights da linguística ao desafio de elaborar uma prosa clara, coerente e elegante.

5. A arte de escrever bem: inicialmente destinado a jornalistas e profissionais do texto, o livro é claro e bem-humorado. O texto é impecável, agradável e atual. Dicas de como escrever de modo elegante, e, para seu conforto este é em português!

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Lembre-se que escrever deve ser um exercício diário. Como toda disciplina, quanto mais você fizer mais dominará a prática. Você escreverá com mais facilidade, sem cair no clichê que entendia o leitor e aprenderá a revisar o próprio texto, mesmo antes de enviar para a revisora.

Prometo que ela agradecerá seu esforço!

Desejo uma boa jornada escrevendo mais e melhor.

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