É no meio do caminho que a mágica acontece.
Brené Brown: A coragem de ser imperfeito
Quando estava subindo a ladeira. No meio da trilha. No meio do meio.
Com as pernas bambas. Quando os calos te lembram o quanto você andou. O que deixou para trás. Remendou.
Nesse ponto.

Você ainda não sente saudades de casa, mas não se sente em casa ainda.
O lugar in between.
Você não sabe que horas são.
Como quando pega 3 voos. Direção: algum lugar na Ásia. O fuso já te pegou.
No aeroporto não tem janela. Já anoiteceu?
Tô com fome! Não, tô enjoada demais para comer.
Aquele lugar que não é de fato. Só existe no meio do sono.
Estou acordada? Ou tudo isso é um pesadelo? Minhas pernas doem. Maldita poltrona minúscula.
O lugar como o crepúsculo. Nem claro nem acordado. A noite tá se segurando. O dia ainda não foi dormir.
O local das preces. Do joelho no chão. Da despedida.
O aeroporto do mundo.
Democrático. Todo sol se põe.
Nesse exato momento. Que nada parece normal. A mágica acontece. Você não percebe.

Ali Na zona de turbulência. No embarque e desembarque, entre o trem e o metrô. Na plataforma. A mágica acontece.
Transforma-se em purpurina.
Você sente um formigar. Mas não sabe para que ele serve.
Pequenas gotas de glitter invisíveis saem dos cabelos.
Há um certo arrepio. Como se levasse um choque.
Na verdade, é um pequeno terremoto.
Nesse exato minuto o futuro desenrola. O próximo. Não o distante.
Uma fresta na porta do destino se abre. Você vai escolher uma direção. Uma decisão. Um norte.
Vai mudar de cidade, de trabalho, de vida.

Algo vai acontecer, mas você não sabe onde começou.
Um filme passa. Disfarça. Não. Não pode ser.
O saber começa quando?
O momento passou. Você não conseguiu segurar.
Anotou a placa?
A mudança já está no caminhão. A mochila nas costas e você não sabe quando isso aconteceu.
Foi naquele dia, lembra?
Que a serpentina te cobriu. A máscara caiu. O carnaval acabou.
