Gosto dos dias cinza. Tenho ganas de escrevinhar.
Sinto cheiro de café e poesia.
Jazz para concentrar, água para lembrar.

Passeio nos inúmeros países de tons amarelos, pela imaginação, é claro.
Olho para meu ano que passou, o aniversário que chegou.
O que fiz do meu ano?
Estudei, aprendi e não viajei.
Escrevi, poetei, li.
Uma profusão de pessoas passaram. Nomes? Não lembro.
Novas surgiram, vejo com olhos desconfiados.
Não sei se por uma estação ou uma chuva de verão.
Para sempre deixou de existir há muito.

Tudo está, nada é. Como deve ser. Onde deve estar.
O que será daqui a um ano?
Lembro do que passou. Da solitária celebração de mais um ano. Um cupcake e uma vela.
Sentia-me sozinha.
Hoje sinto-me eu.
Acompanhada de pensamentos, mas destituída de emoções.
Observo, aguardo, vejo. Me adapto. Repito.
A tudo observe e a nada se identifique, diz a voz na meditação guiada.
Vejo-me expectadora de dores humanas. De um presente que não nasceu. Do ano que parou. De empatias inexistentes. De observadores da condição humana.
O pouco que tem guardam, amealham como a cigarra ou era a formiga?
Ah, o medo.
Pouco sabem. Se você não compartilha, nada terá. Lei universal.

Nada falo. Observo como a uma peça num teatro.
Observo, aguardo, vejo. Repito.
Nunca sei quanto tempo ficarei em algum lugar. Ficarei? Nômade de coração.
Tudo é impermanente, recheado de cinza. O mundo nos calou.
Ficamos medrosos e ressabiados. Economizando migalhas de afeto. Cuidando do nosso quintal e regando nossa grama que nem é mais verde.
Guardando nossa energia para dias piores.
Dias piores virão?
Questões infinitas. Retóricas.

Como um filme francês: nada termina feliz, tudo encerra como é.
Final hollywoodiano é para os felizardos. Ou ingênuos.
Gosto de dias cinzas.
Mônica Barguil