
Uma incisão do lado esquerdo.
Notei – há alguns dias – uns hematomas como sangue pisado naquela região misteriosa.
Peguei a faca. Aquela de ponta. Abri .
Lá estava a ferida recente que eu havia colocado um band-aid.
Desgraçada.
Sangrando. Em conta gotas.
Limpei. Ardeu. Igual merthiolate no joelho ralado. Pior.
Passei nebacetin- dizem que faz bem. Deixei aberta. Meus olhos secaram.
O entorno estava roxo . Algumas partes rosa. Outras necrosadas.

As cicatrizes antigas ficaram ali me encarando de volta. Dizendo baixinho: trabalho mal feito !
Acariciei os machucados. Qual sal na ferida.
Adivinhei meu olho claro. Choro mudo.
Afastei com as costas da mão. As lágrimas.
Retornei para a mesa de operação.
Limpei novamente com álcool. Doeu menos. Deixei um pouco de ar entrar .
Escancarei as janelas , levantei a persiana , havia uma fresta de sol. De mansinho como no raiar do dia. Tímida ela.
Peguei uma agulha grossa. Uma linha preta. Juntei a pele com a mão direita , comecei a traçar as linhas com a esquerda.

Primeiro tem que alinhavar, dizia a minha avó.
Enquanto passava a linha pela minha pele o sangue aparecia e sumia. Foi se dissolvendo aos poucos.
Entrando novamente nos meandros do coração, preenchendo os espaços vazios.
Terminei .
Agora tem que limpar de novo.

Que lindo!
Obrigada Gabriela! Beijos